Por Marco Faustino
Há cerca de duas semanas, principalmente entre os dias 21 e 23 de junho, muitos sites internacionais de notícias e até mesmo sies brasileiros, começaram a propagar uma notícia sobre o caso sobre um misterioso "som", que teria sido detectado no Mar do Caribe, por pesquisadores que estavam estudando as variações de massa nos oceanos. Pois bem, essa notícia foi praticamente transmitida com uma série de elementos e termos técnicos, que são desconhecidos por boa parte das pessoas. Aliás, muitos títulos refletiam que muitos autores do textos, nem mesmo sabiam a exata dimensão sobre o que estavam escrevendo, por mais interessante que o assunto fosse. Afinal, quando as pessoas juntam um "som desconhecido", com uma boa pitada de mistério, resulta em uma fórmula quase infalível de sucesso quando falamos sobre a quantidade de acessos e compartilhamentos para um determinado site de notícias. Para vocês terem uma ideia, vi muitos sites utilizando palavras tais como "unearthly" ("não terrestre" ou "que não é da terra", em português) e "emanating" ("emanando"). Alguns outros sites diziam que o som poderia ser "escutado" do espaço, mas que os seres humanos eram incapazes de ouví-lo.
A situação foi bem mais complicada para muitas pessoas que entraram nesses sites, compartilharam o conteúdo a esmo, e saíram sem entender muito bem o que foi escrito ou então saíram pensando que havia alguma ligação com o famoso "The Hum" (considerado um fenômeno ou um conjunto de fenômenos, envolvendo relatos generalizados de um zumbido de baixa frequência, um tanto quanto persistente e invasivo, mas que nem toda a população consegue ouvir). O que foi descoberto no Mar do Caribe está muito, muito longe mesmo de ser comparável ao "The Hum", ou seja, é completamente absurdo e surreal supor qualquer coisa nesse sentido (por mais que o próprio "The Hum" tenha explicação na absoluta maioria dos casos). O "The Hum" é geralmente relatado por ser propagado em uma frequência bem baixa, entre 30 a 80 Hz, sendo que o ouvido humano é capaz de ouvir frequências, na melhor das hipóteses, entre 20 (frequência mais grave) e 20.000 Hz (frequência mais aguda). Essa proximidade do limite da frequência mais grave que um ser humano pode escutar, faz com que nem todos escutem (afinal, nossa audição vai se deteriorando com o tempo por diversos fatores). Resumindo, escutaríamos com perfeição apenas se todos nós fôssemos "elefantes" saudáveis. No caso do "som" do Mar do Caribe nem sendo elefante adiantaria, visto que o mesmo possui uma frequência infinitamente menor. Explicaremos isso no final dessa postagem.
Inicialmente eu havia lido sobre o assunto, e não tinha cogitado fazer nenhuma postagem sobre o caso. Considerava que não era algo tão relevante ou que houvesse qualquer tipo "associação misteriosa" com os casos que geralmente divulgamos. Vale destacar, no entanto, que o mês de junho foi bem "barulhento". Em meados do mês passado, publiquei uma matéria sobre o "misterioso" som que vem tirando o sono dos moradores da comunidade de Windsor-Essex, no Canadá, há pelo menos cinco anos, que foi muito bem recebida e aceita por vocês tanto no blog, quanto em nosso canal no Youtube. Tivemos também umaatualização sobre aquele " misterioso barulho" em uma casa de Americana, e também sobre os "estranhos" sons da cidade de Uberlândia. De qualquer forma, em uma conversa que tive com o Mateus no final da semana passada, ele comentou que muitas pessoas estavam mandando mensagens, e pedindo para que comentássemos sobre esse "misterioso som" que estaria vindo do Mar do Caribe. Assim sendo, resolvi fazer essa postagem para vocês. Vamos saber mais sobre esse assunto?
Antes de abordarmos essa notícia, é necessário que expliquemos alguns elementos que fazem parte dela, que no caso seriam as "ondas de Rossby". Não é algo muito simples de entender, porém iremos tentar explicar um pouco mais do que foi divulgado, para que vocês possam compreender melhor o que foi noticiado, certo?
As Ondas Atmosféricas de Rossby
Quando tive o primeiro contato sobre essas "ondas de Rossby" confesso que fiquei um tanto quanto confuso para compreendê-las, visto que muitos sites diziam que elas se movimentavam de leste para oeste (como se fosse da Ásia em direção a América), porém os gráficos associados quase sempre apontavam setas que seguiam na direção oposta, ou seja, de oeste para leste (como se fosse da América em direção a Ásia). Isso realmente estava dando um nó na minha cabeça.
Assim sendo entrei em contato com a Samantha Martins, bacharel em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP), que já trabalhou com modelagem numérica voltada à interação entre a atmosfera e o oceano no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e atualmente trabalha em uma Estação Meteorológica, onde realiza atividades como apoio à pesquisa, organização do banco de dados e atendimento de escolas e visitantes em geral. Ela também é responsável pelo site Meteorópole (uma fusão entre as palavras Meteorologia e Metrópole), no qual ela fala sobre os problemas das cidades grandes, das metrópoles (enchentes, poluição do ar etc.), assim como sobre a meteorologia no campo, na praia, e nos mais diversos ambientes.
Samantha Martins, bacharel em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP), é responsável pelo site Meteorópole (ma fusão entre as palavras Meteorologia e Metrópole). |
Imagem exemplificando as correntes de jato polar e subtropical no Hemisfério Norte |
Para entender sobre ondas de Rossby é necessário que você conheça rapidamente um pouco sobre correntes de jato ou simplesmente jatos (em inglês, jet streams), que são basicamente correntes de ar que ocorrem na atmosfera, e foram descobertas durante as incursões aéreas na Segunda Guerra Mundial. As correntes de jato mais poderosas são os jatos polares, que ocorrem entre 7 e 12 km (entre as latitudes de 40° a 70°) acima do nível do mar, e os jatos subtropicais, que ocorrem entre 10 e 16 km (entre as latitudes 20° e 30°) também acima do nível do mar.
Imagem criada pela editoria de arte da Folha de São Paulo para ilustrar parte da notícia "Correntes de vento rápidas explicam ondas de calor e frio", publicada em março de 2014. |
A parte interessante dessa história, é que a corrente principal segue de oeste para leste (da esquerda para a direita), acompanhando evidentemente o movimento de rotação da Terra, porém a curvatura dessas correntes chega a um ponto de ficar tão acentuada a oeste, que acabam formando ondas que se movem no sentido contrário, porém bem lentamente, retardando assim a migração global das cristas (regiões alongadas de alta pressão) e cavados (regiões alongadas de baixa pressão). A sequência dessas curvaturas acentuadas das correntes de jato polar e subtropical em direção a oeste é que são as "ondas de Rossby". Por mais que você veja muitos gráficos com setas apontando para leste, saiba que aquilo é como se fosse um retrato generalizado das correntes. As "ondas de Rossby" existem, e se movimentam sempre de leste para oeste.
A sequência dessas curvaturas acentuadas resultante da intesificação das correntes de jato polar e subtropical em direção a oeste é que são as "ondas de Rossby" |
As ondas são resultado da distribuição continente/oceano, da distância Terra-Sol, dos movimentos de rotação e translação e da inclinação do eixo da Terra, ou seja, elas existem dessa maneira, porque nosso planeta possui essas características fixas. Se considerarmos uma onda como algo formado por uma crista e um cavado (uma parte baixa e uma parte alta e assim sucessivamente), temos entre 3 a 6 ondas como essas circulando pelo nosso planeta (sempre localizadas em latitudes médias e altas) nos trópicos, e por volta de 5.500 metros de altitude. Podemos dizer, portanto, que as ondas de Rossby são um fenômeno natural, e nada mais do que o resultado do "escoamento" da atmosfera.
Na média e alta troposfera, os ventos de oeste apresentam uma trajetória ondulada, de cristas e cavados. |
Capa da revista Time, de 17 de dezembro de 1956, com uma ilustração de Carl-Gustaf Arvid Rossby |
Ele foi um dos primeiros a explicar esses movimentos de larga escala usando equações da mecânica dos fluidos. Suas fundamentais contribuições para o campo da Meteorologia receberam destaque na edição de 17 de dezembro de 1956 da revista Time.
É interessante notar que ele saiu na capa da Time, meses antes de morrer. Na capa podemos ver uma ilustração de Rossby com seu inseparável cachimbo e ao fundo, nuvens, raios e chuva, sobrepostos por linhas de pressão (isóbaras) e linhas com barbelas que indicam a velocidade e direção do vento. Carl Rossby acabou se tornando o primeiro meteorologista a estar na capa de uma revista de renome internacional.
Por volta daquela mesma época (mais precisamente na década de 30), ele também teorizou a existência de grandes ondas, se movimentando bem lentamente, sempre de leste para oeste, só que nos oceanos. O maior problema, é claro, é que elas eram muito difícies se serem comprovadas, algo que só foi possível com o advento da oceanografia por satélite. É justamente sobre isso que vamos comentar a partir de agora.
As Ondas Oceânicas de Rossby
Segundo o site do Centro Oceanográfico Nacional de Southampton, no Reino Unido, as ondas de Rossby, também conhecidas como ondas planetárias, são um dos fenômenos naturais mais intrigantes. Elas são "facilmente" observadas na atmosfera, ou seja, como "curvaturas acentuadas das corrente de jato", em direção a oeste, em grande escala, nas latitudes médias, mas a existência delas nos oceanos, primeiramente teorizadas por Carl-Gustav Rossby, na década de 1930, tinha sido apenas indiretamente confirmada antes do advento da oceanografia por satélite.
Foto da fachada do prédio do Centro Oceanográfico Nacional de Southampton, no Reino Unido |
O vídeo abaixo mostra a altura da superfície do mar em relação à sua média ao longo prazo: o que aparece em vermelho indica que está acima do normal, o que aparece em azul indica que está abaixo do normal. As pertubações que se movimentam lentamente, se propagando na direção oeste, em ambos os "lados em relação a linha do Equador", no Oceano Pacífico, são ondas oceânicas de Rossby (fiquem atentos em 0:34):
É importante mencionar que o vídeo acima é o resultado de 15 anos de dados (entre janeiro de 1993 e dezembro de 2007) obtidos das anomalias em relação a altura da superfície do mar (em mm) a partir dos satélites TOPEX/Poseidon e Jason-1 (logo comentaremos sobre eles). Evidentemente, o vídeo está acelerado para que todo esse volume de dados pudesse ser reproduzido no menor tempo possível, caso contrário o vídeo seria extremamente longo.
Vale ressaltar também que essas ondas podem aparecer em qualquer oceano, não somente no Oceano Pacífico, e algumas delas podem atravessar a Terra completamente. Apesar de "praticamente invisíveis", algumas pessoas podem pensar que elas não exercem nenhuma influência sobre nosso planeta, o que é completamente errado de se pensar.
Elas têm efeitos importantes sobre a circulação do oceano em grande escala, e, portanto, em relação ao tempo (condições meteorológicas) e do clima. Talvez o mais importante efeito das ondas oceânicas de Rossby seja sentido nas correntes de contorno oeste, tal como a "Corrente do Golfo", que por sua vez é é uma corrente marítima potente, rápida e quente do oceano Atlântico, originada no Golfo do México, escapando pelo estreito da Flórida, seguindo a costa leste dos Estados Unidos, se extendendo até a Europa, e tornando os países a oeste do continente europeu mais quentes do que eles seriam sem essa corrente.
Imagem mostrando a corrente do Golfo (em destaque no círculo vermelho) e a corrente de Kuroshio (em destaque no círculo azul escuro) |
Entretanto, tudo isso só foi possível graças ao satélite chamado "TOPEX-Poseidon" ("Topography Experiment/Poseidon", em inglês), que foi enviado ao espaço em 10 de Agosto de 1992, em uma missão conjunta da NASA (a conhecida agência espacial norte-americana) e do CNES (Centro Nacional de Estudos Espaciais da Agência Espacial da França), para mapear a topografia da superfície dos oceanos. Foi assim que as ondas de Rossby puderam ser finalmente comprovadas.
Ela foi o primeiro satélite voltado especificamente para pesquisas oceanográficas, e a missão TOPEX/Poseidon revolucionou a oceanografia atestando as vantagens do uso de satélites para observações oceânicas. O famoso oceanógrafo Walter Munk descreveu essa missão como "o experimento oceanográfico de maior sucesso em todos os tempos". O mesmo foi sucedido pelo satélite "Jason 1" (2001), "Jason 2" (2008) e "Jason 3" (2013).
Em um texto publicado no caderno "Ciência e Vida", no jornal "O Globo", em em 22 de Abril de 1996, foi mencionado que observações feitas na época pelo satélite TOPEX-Poseidon mostravam que as ondas oceânicas de grande tamanho, conhecidas como ondas de Rossby alteravam a dinâmica de correntes marinhas, e a temperatura correspondente na superfície. Por isso, influenciavam o mecanismo pelo qual os oceanos lançavam calor na atmosfera, e seriam capazes de afetar os padrões climáticos, além de carregar a memória de mudanças do clima em lugares distantes. Assim sendo, cientistas da NASA e do Colégio de Ciências Oceânicas e Atmosféricas na Universidade do Estado de Oregon em Corvallis, nos Estados Unidos, usaram as informações coletadas pelo satélite para monitorar as ondas à medida que elas se movimentavam pelo mar. Os pesquisadores determinaram que, nas latitudes média, as ondas Rossby se deslocam até três vezes mais rapidamente do que diziam as antigas teorias. Entre a crista de uma onda de Rossby e outra, existe uma distância de milhares de quilômetros. Conforme dissemos anteriormente, essas ondas são resultado natural da rotação da Terra, e elementos chaves para a circulação oceânica em larga escala.
"Todo estudante de primeiro ano em oceanografia física aprende sobre as ondas de Rossby. No entanto, observá-las tem sido uma tarefa extremamente difícil, porque causam mudanças no nível do mar de apenas dez a 20 centímetros e se espalham por milhares de quilômetros. Elas se movem rumo ao Oeste tão vagarosamente, que uma onda pode levar mais de dez anos para atravessar o Oceano Pacífico, na latitude de Los Angeles, e mais de 30 anos na latitude da cidade de Veneza, na Itália", disse na época Victor Zlotnicki, oceanógrafo do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, nos Estados Unidos. Ele também explicou que, graças ao TOPEX-Poseidon, foi possível observar claramente as ondas de Rossby pela primeira vez.
A Notícia Sobre um "Estranho e Misterioso Som" que Estaria "Emanando" do Mar do Caribe
Agora que você conhece um pouco mais sobre as "ondas de Rossby" pode seguir com o assunto que começou a circular nos sites de notíciais internacionais e também de cunho científico, por volta dos dias 21 e 23 de junho desse ano. Todas elas se baseavam em um estudo publicado online na dia 19 de junho, por uma revista cientifíca sobre Geociências, com revisão por pares, chamada "Geophysical Research Letters" da União Geofísica Americana (em inglês, "American Geophysical Union" ou "AGU"), que por sua vez é uma organização com fins não lucrativos de geofísicos que conta com cerca de 49.000 membros, que provêm de 140 países (dados referentes ao ano de 2006).
O estudo denominado "A Rossby whistle: A resonant basin mode observed in the Caribbean Sea" foi conduzido principalmente por pesquisadores do Centro Oceanográfico Nacional de Liverpool, no Reino Unido, localizado em um dos prédios da Universidade de Liverpool, mas o estudo não era bem o objetivo inicial dos pesquisadores. O objetivo dos mesmos, ao menos segundo o site da BBC Mundo, era analisar as variações de massa nos oceanos.
Foto da fachada do prédio que abriga o Centro Oceanográfico Nacional de Liverpool, no Reino Unido, dentro das dependências da Universidade de Liverpool |
Nos trópicos, o fundo do mar costuma ser muito tranquilo, e era isso que os pesquisadores esperavam encontrar quando se dispuseram a estudar o mar do Caribe. Segundo o site Science Alert, foram utilizados cerca de quatro modelos diferentes de atividade oceânica para tentar descobrir algumas das dinâmicas do oceano na região, mas nada encaixava como deveria.
Aliás, o interesse pela pesquisa daquela região é facilmente explicável. O mar do Caribe é uma parte importante do cinturão de circulação global, responsável pela formação de correntes que alimentam a "Corrente do Golfo". Caso tenhamos o intuito de entender como o nosso clima mudará no futuro, precisamos entender melhor como as águas quentes e frias se movimentam ao redor do nosso planeta.
Vale ressaltar nesse ponto que o Mar do Caribe é uma parte do Oceano Atlântico (um mar semiaberto tropical), a sudeste do Golfo do México, sendo delimitado pela América do Sul, América Central e as ilhas do Caribe, e abrange uma área de aproximadamente 2.754.000 km². O ponto mais profundo do mar é a fossa das ilhas Cayman, a 7.686 metros abaixo do nível do mar.
Mapa mostrando a localização do Mar do Caribe |
O professor Chris Hughes, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de Liverpool, no Reino Unido |
"Estávamos observando a pressão do oceano através de modelos por razões bem diferentes, e esta região simplesmente não se encaixava", disse Chris Hughes,em entrevista para o site Gizmodo.
Para ter certeza se o "estranho" fenômeno era algo real, eles verificaram os níveis da água, e fizeram leituras da pressão a partir do fundo do Mar do Caribe entre os anos de 1958 e 2013. Eles também verificaram as leituras dos medidores das estações maregráficas (basicamente medidores das marés).
Além disso, eles também verificaram as medições do campo gravitacional na região por meio de dois satélites "gêmeos" do programa "Gravity Recovery And Climate Experiment" (sigla em inglês, GRACE), da NASA e do Centro Aeroespacial da Alemanha (DLR). Ambos registram as mudanças no campo gravitacional da Terra desde 2002. Essas variações ocorrem basicamente por mudanças no volume de água no planeta, movimentação de grandes massas de gelo, e também por fenômenos como terremotos. Resumindo, os satélites Grace fornecem medições detalhadas de anomalias no campo gravitacional da Terra.
Assim sendo, os pesquisadores descobriram que a bacia hidrográfica do mar do Caribe agia como se fosse um "apito gigante", dando um interessante apelido para esse fenômeno: "Apito de Rossby". Notaram algum nome conhecido?
As Razões do Fenômeno ser Apelidado de "Apito de Rossby", e a Comparação com um Apito Comum
Foi exatamente isso que você leu, Rossby. A "causa" deste som é uma grande onda, conhecida como onda de Rossby, que viaja de leste para oeste através do oceano. Ela surge e "desaparece" quando atinge o oeste da bacia do Caribe, sendo que o intervalo de duração da onda é de 120 dias, ou seja, demora cerca de 120 dias para que as ondas se propaguem de leste para oeste, produzindo um tom "lá bemol", cerca de muitas oitavas abaixo do que um piano normal conseguiria reproduzir (cerca de 30 oitavas abaixo do normal).
Logo após "desaparecer" na costa oeste, ela reaparece na costa leste para então voltar a atravessar a região. Estranho, não é mesmo? Porém, esse "desaparecimento" já tinha sido captado alguns anos atrás. Na época, ele foi apelidado de "Buraco de Minhoca de Rossby". Agora, os pesquisadores descobriram que a onda não "desaparece de verdade" e ainda por cima interage intensamente com o fundo do mar, causando uma espécie de "assovio". Os cientistas agora sabem que ondas ressoam quando batem nessa "parede" a oeste, assim como certas frequências ressoam quando você assopra um apito. Em ambos os casos, a frequência ressonante produz um som.
"Uma corrente oceânica flui através da região, se torna instável e estimula uma ressonância de um tipo raro de onda chamada Rossby. Como o mar do Caribe é parcialmente aberto, ele faz uma troca de águas com o resto do oceano. Isso nos permite "escutar" a ressonância com instrumentos para medir a gravidade", disse Chris Hughes, no estudo publicado na revista Geophysical Research Letters.
Curiosamente, esse fenômeno só ocorre nessa parte do planeta devido a três fatores:
"Trata-se de uma bacia relativamente pequena. A onda atravessa toda a região, e o mais importante é que a corrente oceânica faz com que haja uma instabilidade", completou.
Este fenômeno pode fazer o nível do mar variar em até 10 cm ao longo da costa da Colômbia e da Venezuela. Compreendê-lo pode ajudar a prever qual a probabilidade de inundações costeiras acontecerem. Além disso, trata-se de uma descoberta muito importante para tentar entender como os oceanos irão responder a estas variações climáticas em diversas partes do mundo no futuro.
Este fenômeno pode fazer o nível do mar variar em até 10 cm ao longo da costa da Colômbia e da Venezuela. Compreendê-lo pode ajudar a prever qual a probabilidade de inundações costeiras acontecerem |
Toda Essa Divulgação Sobre o "Misterioso Som Emanando do Caribe" Foi Exagerada?
Pois é, AssombradOs, apesar de tudo, aparentemente houve um certo exagero por parte da mídia em divulgar sobre o "Apito de Rossby", sendo que é justamente sobre isso que iremos falar a partir de agora. Vamos nos basear no excelente texto escrito por Jacqueline Ronson, redatora de assuntos científicos do site de entretenimento, ciência e tecnologia, chamado Inverse.com.
Conforme vocês puderam perceber, e assim como acontece muitas outras notícias científicas, o "conto do Apito de Rossby" está longe de ser fácil de ser entendido. Entenda que o mar do Caribe não está realmente fazendo uma espécie de barulho (ou ruído), uma vez que um barulho (ou um ruído) normalmente se refere às vibrações de comprimentos de onda que podem ser ouvidas. O oceano está vibrando, mas com uma frequência de várias oitavas mais baixas do que a faixa de frequência dos sons audiveis pelo ser humano. Essas vibrações estão sendo medidas como energia gravitacional por satélites orbitando da Terra. Dizer que elas podem ser ouvidas a partir do espaço é tão somente uma metáfora. É análogo ao dizer que podemos "ouvir" colisões de buracos negros a 1,3 bilhões de anos-luz de distância; que tem mais a ver com a sensibilidade do instrumento de medição, do que a magnitude do sinal.
Jacqueline Ronson, redatora de assuntos científicos, do site Inverse.com |
Eis o que está acontecendo: Existe um tipo especial de onda chamada de "onda de Rossby", que viaja através dos mares do planeta. Ela é bem diferente das ondas normais do oceano, e você não pode observá-la sem instrumentos especiais. Essas ondas tem uma altura bem pequena (cerca de alguns centímetros), e um período muito longo. Ela demora 120 dias para percorrer o Mar do Caribe uma única vez.
Agora vem a parte estranha: Quando a onda de Rossby atinge a bacia do Caribe, ela simplesmente desaparece, e reaparece no outro lado da bacia. Imagine se ondas normais parassem de repente, e a superfície da água ficasse plana. Imaginou? Em seguida, um pouco mais adiante, surgem novamente ondas como se o movimento nunca tivesse parado. É basicamente isso que eles quiseram dizer, um fenômeno tão estranho que os cientistas apelidaram de "Buraco de Minhoca de Rossby".
A questão é que a energia das ondas não desaparece, simplesmente não é visível durante algum tempo na superfície. Em vez disso, a energia é transferida para as profundezas dentro da bacia, onde interage com o fundo do mar, formando ondas de compressão relacionadas com as alterações de pressão no fundo do mar. É essa interação que produz as vibrações pulsantes detectadas no espaço. Os satélites estão medindo uma mudança rítmica na energia gravitacional, que está relacionada com a alteração de massa da bacia, conforme a onda de Rossby avança através dela.
Temos também outra razão para a analogia ao som: a interação entre a bacia e a água avançando através dela tem a mesma dinâmica física de um apito. Imagine que seu sopro é a onda de Rossby, e a bacia do Caribe é a câmara de um apito. O fluxo desce através da cavidade, e como resultado temos a liberação de uma vibração. Os seus ouvidos, neste caso, são os satélites, que estão detectando as ondas de energia que são liberadas. Entendeu? Segundo Jacqueline Ronson, você escuta o som em frequências vibracionais entre 20 e 20.000 ciclos por segundo (Hertz), porém esses ciclos vibracionais de Rossby acontecem uma vez a cada 120 dias, o que resulta em cerca de 0.000000096 hertz. Portanto, não é realmente som, mas se você acelerá-lo digitalmente, assim como você faria com sua própria voz para deixá-la parecida com a voz dos esquilos do filme "Alvin e os Esquilos", então você conseguirá ouví-lo. Foi exatamente isso que os pesquisadores fizeram, e foi repassado como se o som fosse exatamente aquele, quando não é verdade.
Enfim, acho que agora vocês sabem exatamente o que foi detectado, e tem a disposição, através dessa postagem, um material bem completo sobre esse assunto. É bom deixar claro mais uma vez que isso não tem nenhuma relação com o "The Hum", e não passa de um fenômeno natural, que evidentemente será melhor pesquisado no futuro. Esperamos que tenham gostado!
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