Um Manequim "Possuído" Teria Sido Baleado Após Ter Atacado Cadetes Durante a Noite, no Colégio Militar do Exército da Bolívia?
Por Marco Faustino
Quando você pensa que já viu de tudo, aprende-se rápido que você não chegou nem perto das histórias que são contadas, e que nem sempre ganham tanta repercussão assim no cenário internacional. Estava procurando por algum caso para contar para vocês, quando me deparei com uma estranha, que dizer, uma notícia muito estranha que teria acontecido no Colégio Militar do Exército da Bolívia, localizado em La Paz, a capital daquele país. Basicamente, a notícia dizia que cadetes do Exército teriam dito que havia um manequim, alegadamente possuído por forças malignas, que simplesmente ganhava vida durante a noite e vagava pelos corredores da instituição militar. Aliás, esse manequim não fazia apenas isso, ele teria sido visto segurando sua arma enquanto vagava pelo corredores, e chegou ao ponto que um dos cadetes se assustou e atirou contra o manequim, mais precisamente na altura da sua cabeça, sendo que o "buraco" ainda é visível até hoje. Com medo que algo assim pudesse se repetir, os cadetes teriam arrancado as mãos do manequim e o colocado dentro de grande caixa de vidro. Acreditava-se também que o manequim estivesse possuído pelo espírito de um ex-comandante do Colégio Militar. Após essas "medidas" os relatos de pessoas que diziam ter avistado o manequim circulando pelos corredores do colégio simplesmente cessaram. Notícia estranha, não é mesmo?
Quando eu li essa história, imediatamente pensei que pudesse render algo interessante para ser contado e explorado de uma forma mais ampla, logo comecei uma pequena investigação. A princípio, o enredo disso tudo parecia refletir mais uma história de terror baseada no filme "Um Noite no Museu" misturado com "Anabelle" e "Chucky, o Brinquedo Assassino" do que qualquer outra coisa. Em seguida, me lembrei da "La Pascualita", que de vez em quando alguns usuários pedem que façamos um especial sobre ela. Para quem não conhece o assunto, o caso seria sobre um manequim, que supostamente seria a filha embalsamada do proprietário de uma loja de vestidos de noivas, na qual ela é exibida em uma vitrine no México. Ainda faremos um belo texto explicando ponto por ponto dessa história para vocês, por mais que esse caso seja antigo, e já tenha sido desmistificado faz algum tempo. Enfim, será que existiria mesmo um manequim "possuído", que teria atacado cadetes na calada da noite, no Colégio Militar do Exército da Bolívia? Vamos saber mais sobre esse assunto?
Nossa jornada para contar essa história começa em uma publicação no site do tabloide britânico "Daily Mirror", que recentemente publicou esse caso, mais precisamente no dia 27 de junho desse ano, intitulado "Possessed' soldier dummy has hands chopped-off after it 'attacked cadets with gun in the night'" ("Um manequim 'possuído' de soldado teve suas mãos arrancadas após ter atacado cadetes com uma arma durante a noite", em português).
O texto e as "imagens" utilizados eram da agência de notícias CEN (Central European News), que tradicionalmente não faz questão de se aprofundar sobre os casos que apresenta. Se vocês leram a postagem denominada "Coincidência? Três Supostos "Chupa-Cabras" Foram Registrados em Localidades Diferentes ao Redor do Mundo em Menos de Uma Semana!", vão entender exatamente, o quão ruim é o material que eles distribuem para os sites de notícias europeus. Infelizmente esse caso não seria diferente.
Confira abaixo o que começou a ser propagado pelos tabloides ingleses:
"Um grupo de cadetes disse que eles foram forçados a arrancar as mãos do manequim 'possuído' de um soldado depois que ele seguidamente despertava no meio da noite, e os atacava com uma arma.
Os alunos da escola militar afirmaram que o manequim era possuído por um espírito maligno, e foi visto muitas vezes se movendo sozinho. Alguns cadetes até mesmo alegaram que o manequim, de uma instituição não identificada da capital boliviana de La Paz, tinha sido possuído pelo fantasma de um dos seus ex-comandantes.
A decisão de retirar as suas mãos foi tomada depois que um estudante aterrorizado disse que teria baleado o manequim. Então, para evitar que ele causasse mais problemas, eles decidiram arrancar suas mãos, e colocá-lo em uma caixa de vidro.
'Tivemos que tomar a decisão de cortar suas mãos para que ele não não nos atacasse mais e, em seguida, o colocamos em uma caixa de vidro para que ele também não fosse capaz de se mover', explicou Moises Borja, um dos cadetes, sobre a bizarra tática que decidiram adotar, para a TV Panamericana. Alguns dos estudantes disse aos repórteres que o manequim era capaz de usar armas, e temiam que ele iria atacá-los.
'Alguns cadetes dizem que escutam sons de pessoas andando na ala norte', acrescentou Moises Borja.
'Se você estiver andando sozinho por um corredor, ao lado das fotos dos presidentes e das estátuas dos herois de guerra, eles começam a perguntar para você: 'Por que você está aqui?' e 'Por que você está andando assim?', disse Ediberto Parra.
As alegações não foram investigadas e o diretor da instituição, cujo nome não foi revelado, disse que tudo não passava de superstição."
Sabemos que a agência de notícias CEN tem uma tradição de usar imagens extraídas de trechos de vídeos que são publicados, principalmente no Youtube, e eles intencionalmente cortam quaisquer logomarcas, impedindo assim uma melhor identificação do material que eles repassam. Contudo, nesse caso não foi tão difícil descobrir.
Essa história teria supostamente partido do site do "El Dominical de Panamericana", que sempre é exibido aos domingos, às 8h, na TV Panamericana, que por sua vez, é uma rede de televisão peruana fundada em 1959. A reportagem foi exibida no dia 26 de junho, um dia antes de ser publicado pelo "Daily Mirror", e não havia nenhuma referência recente sobre o caso em sites de notícias bolivianos. Será que o caso teria acontecido no Peru ou então teria mesmo acontecido na Bolívia, mas não era algo tão recente assim?
Aliás, a própria TV Panamericana publicou em sua respectiva conta no Youtube, o vídeo referente a reportagem, porém havia um pequeno problema. O vídeo claramente pertencia a outra emissora de televisão, visto que eles até tentaram encobrir as logomarcas, e o que estava escrito na tela, de uma forma muito esquisita e visivelmente mal feita. Confira o que eles divulgaram:
Estou tão acostumado a escrever e traduzir notícias ou matérias que envolvem a América Latina, que imediatamente identifiquei as duas logomarcas que aparecem o fundo. A primeira, à direita da tela, era da rede de televisão Telemundo. A segunda, à esquerda, era do programa "Al Rojo Vivo" (ARV), que é apresentado pela jornalista e atriz María Celeste. Assim sendo, era uma questão de tempo, aliás pouquíssimo tempo, até localizar o vídeo "original".
Ao realizar uma rápida pesquisa, foi possível notar que toda essa história começou a ser divulgada no dia 6 de outubro de 2015, ou seja, cerca de 10 meses atrás. Confira a reportagem que foi publicada no canal do programa "Al Rojo Vivo", no Youtube:
Apesar da notícia ser bem antiga, ao menos sabíamos que o caso tinha acontecido mesmo na Bolívia, e dentro de uma instituição de cunho militar do país. Assim sendo, nada melhor do que começar a explicar direitinho essa história para vocês, e descobrir se isso poderia ter realmente acontecido ou não.
Toda essa história teria acontecido no Museu do Colégio Militar do Exército da Bolívia, que fica dentro do complexo do Colégio Militar do Exército "Coronel Gualberto Villarroel López", que por sua vez é um instituto responsável por formar oficiais para o Exército da Bolívia, localizado no bairro de Irpavi, na zona sul da cidade de La Paz. No museu, propriamente dito, as pessoas podem encontrar objetos, textos, vestimentas utilizadas pelo exército boliviano ao longo de sua história, e principalmente armamentos antigos. Algo absolutamente normal considerando um museu dedicado a preservar a memória militar de um país.
A reportagem da Telemundo começa mencionando sobre um suposto "buraco de bala", na região da cabeça, que o manequim teria. O tiro teria sido disparado por um cadete (não foi mencionado o nome), que jurou ter visto o mesmo se movimentando, e que teria tentado atacá-lo.
Também foi informado que os oficiais, que ficavam de guarda no museu militar, disseram que a alma de um ex-comandante chamado "Chiqui Rojas" teria se "apoderado" do manequim, e que de vez em quando o viam segurando sua arma, teoricamente um fuzil. Por essa mesma razão seus dois braços teriam sido cortados. Um cadete chamado Moisés Borja também explicou que o manequim tinha sido colocado em uma caixa de vidro para evitar que o mesmo se movimentasse.
Como se tudo isso não bastasse, outros cadetes disseram que ouviam ruídos estranhos nas dependências do Colégio Militar, e que eles acreditavam ser as almas dos cadetes, que morreram no local, e do ex-comandante que não deseja ir embora. O próprio cadete Moisés Borja disse que de vez em quando eram ouvidos passos, como se alguém estivesse andando pelo Pátio da Artilharia do Museu do Colégio Militar.
A reportagem também contou com o estranho depoimento do cadete Ediberto Parra, dizendo as estátuas e até mesmo os quadros que existem no museu costumavam "falar" com que passava por eles, e fazia perguntas tais como: "Por que você está aqui?" e "Por que você está andando assim?"
A parte mais interessante ocorre justamente na parte final da reportagem, onde Heriberto Ozinaga, diretor do Museu do Colégio Militar, disse que tudo isso não passava de histórias que eram contadas para assustar os novos cadetes, e que já eram contadas desde a década de 70 ou 80. Resumindo, isso não é nada recente, e no máximo a reportagem comentava sobre as lendas ou eventos sobrenaturais que "assombravam" os cadetes do Colégio Militar do Exército da Bolívia, em La Paz.
Até mesmo o repórter Bernabé López, que foi o responsável pela reportagem, disse que um investigador paranormal (cujo nome não foi mencionado) havia recomendado uma espécie de limpeza espiritual do local, para que as almas finalmente pudessem descansar em paz.
Enfim, restava apenas entender o motivo que levou o programa "Al Rojo Vivo" a exibir ou realizar essa reportagem, visto que foi praticamente uma notícia isolada naquela época. Apesar de não ter uma motivação explícita, existe um detalhe que é necessário compartilhar com vocês sobre esse museu, para que vocês possam ter uma base mais sólida sobre o assunto.
O que dificilmente contariam para vocês é que em 17 de abril do ano passado, a imprensa boliviana divulgou que o Museu do Colégio Militar estabeleceu um convênio com a "Mi Teleférico", uma empresa estatal que administra o maior e mais alto sistema de transporte aéreo por cabos do mundo, que liga a cidade de La Paz e El Alto (considerada a porta de entrada de imigrantes provenientes do resto do país, especialmente os recém-chegados das áreas rurais que buscam uma oportunidade melhor de trabalho), através de modernos teleféricos.
O motivo? Segundo Roberto Ponce, comandante do Colégio Militar, a parceria pretendia abrir o "coração" do Colégio Militar para que toda população boliviana pudesse visitar o museu, e conhecer a história do Exército e do Estado boliviano. Dessa forma havia sido estabelecido uma espécie de circuito, no qual a pessoa saía da "Praça Espanha" (conhecida como "Praça das Armas"), embarcando na estação Supu Kachi (Sopocachi) da linha amarela do teleférico, até a estação Irpawi (Irpavi) na linha verde.
Em agosto do ano passado, a versão online do "El Diario Cultural", apontava para algumas declarações de Lourdes Omoya, gerente executiva da Empresa Estatal Boliviana de Turismo (BOLTUR) dizendo novamente que Museu do Colégio Militar do Exército faria parte de um circuito turístico envolvendo as linhas amarela e verde da estatal "Mi Teleférico", e que isso atrairia moradores da cidade vizinha de "El Alto", bem como de outras partes da cidade, que teriam o custo apenas da passagem do teleférico (algo por volta de 3 Bs ou cerca de R$ 1,00 pela cotação atual) para visitar o museu.
De acordo com Lourdes Omoya, seria muito importante que todos pudessem conhecer o sistema de transporte por cabos, que desfrutassem de uma vista panorâmica, e ao mesmo tempo conhecessem um pouco mais sobre a história da Bolívia. Algo bem semelhante a isso também foi publicado pelo site"Periódico La Región" em 9 de setembro do ano passado.
Apesar de não ter sido mencionado quando esse convênio iria terminar, tudo leva a crer que essa atividade também tenha acontecido durante o mês de de outubro, que foi justamente o mês no qual a reportagem da Telemundo foi realizada. Isso poderia ter efetivamente estimulado a realização da reportagem, ou seja, promovendo a ação governamental, com o objetivo que as pessoas fossem até o museu conhecer um pouco mais sobre a história militar da Bolívia. Isso não quer dizer que as histórias contadas sejam ou não verdade, mas muito provavelmente não passam de lendas ou contos para assustar os novos cadetes, e acabaram ganhando uma dimensão bem maior do que deveriam.
E vocês, no que vocês acreditam?
Quando você pensa que já viu de tudo, aprende-se rápido que você não chegou nem perto das histórias que são contadas, e que nem sempre ganham tanta repercussão assim no cenário internacional. Estava procurando por algum caso para contar para vocês, quando me deparei com uma estranha, que dizer, uma notícia muito estranha que teria acontecido no Colégio Militar do Exército da Bolívia, localizado em La Paz, a capital daquele país. Basicamente, a notícia dizia que cadetes do Exército teriam dito que havia um manequim, alegadamente possuído por forças malignas, que simplesmente ganhava vida durante a noite e vagava pelos corredores da instituição militar. Aliás, esse manequim não fazia apenas isso, ele teria sido visto segurando sua arma enquanto vagava pelo corredores, e chegou ao ponto que um dos cadetes se assustou e atirou contra o manequim, mais precisamente na altura da sua cabeça, sendo que o "buraco" ainda é visível até hoje. Com medo que algo assim pudesse se repetir, os cadetes teriam arrancado as mãos do manequim e o colocado dentro de grande caixa de vidro. Acreditava-se também que o manequim estivesse possuído pelo espírito de um ex-comandante do Colégio Militar. Após essas "medidas" os relatos de pessoas que diziam ter avistado o manequim circulando pelos corredores do colégio simplesmente cessaram. Notícia estranha, não é mesmo?
Quando eu li essa história, imediatamente pensei que pudesse render algo interessante para ser contado e explorado de uma forma mais ampla, logo comecei uma pequena investigação. A princípio, o enredo disso tudo parecia refletir mais uma história de terror baseada no filme "Um Noite no Museu" misturado com "Anabelle" e "Chucky, o Brinquedo Assassino" do que qualquer outra coisa. Em seguida, me lembrei da "La Pascualita", que de vez em quando alguns usuários pedem que façamos um especial sobre ela. Para quem não conhece o assunto, o caso seria sobre um manequim, que supostamente seria a filha embalsamada do proprietário de uma loja de vestidos de noivas, na qual ela é exibida em uma vitrine no México. Ainda faremos um belo texto explicando ponto por ponto dessa história para vocês, por mais que esse caso seja antigo, e já tenha sido desmistificado faz algum tempo. Enfim, será que existiria mesmo um manequim "possuído", que teria atacado cadetes na calada da noite, no Colégio Militar do Exército da Bolívia? Vamos saber mais sobre esse assunto?
Nossa jornada para contar essa história começa em uma publicação no site do tabloide britânico "Daily Mirror", que recentemente publicou esse caso, mais precisamente no dia 27 de junho desse ano, intitulado "Possessed' soldier dummy has hands chopped-off after it 'attacked cadets with gun in the night'" ("Um manequim 'possuído' de soldado teve suas mãos arrancadas após ter atacado cadetes com uma arma durante a noite", em português).
Título da notícia publicada no site do tabloide britânico "Daily Mirror": "Um manequim 'possuído' de soldado teve suas mãos arrancadas após ter atacado cadetes com uma arma durante a noite" |
A Notícia se Espalha Através do Tabloide Britânico "Daily Mirror"
Confira abaixo o que começou a ser propagado pelos tabloides ingleses:
"Um grupo de cadetes disse que eles foram forçados a arrancar as mãos do manequim 'possuído' de um soldado depois que ele seguidamente despertava no meio da noite, e os atacava com uma arma.
Os alunos da escola militar afirmaram que o manequim era possuído por um espírito maligno, e foi visto muitas vezes se movendo sozinho. Alguns cadetes até mesmo alegaram que o manequim, de uma instituição não identificada da capital boliviana de La Paz, tinha sido possuído pelo fantasma de um dos seus ex-comandantes.
Um grupo de cadetes disse que eles foram forçados a arrancar as mãos do manequim 'possuído' de um soldado depois que ele seguidamente despertava no meio da noite, e os atacava com uma arma |
A decisão de retirar as suas mãos foi tomada depois que um estudante aterrorizado disse que teria baleado o manequim |
'Alguns cadetes dizem que escutam sons de pessoas andando na ala norte', acrescentou Moises Borja.
'Se você estiver andando sozinho por um corredor, ao lado das fotos dos presidentes e das estátuas dos herois de guerra, eles começam a perguntar para você: 'Por que você está aqui?' e 'Por que você está andando assim?', disse Ediberto Parra.
As alegações não foram investigadas e o diretor da instituição, cujo nome não foi revelado, disse que tudo não passava de superstição."
Encontrando a Verdadeira Origem da História Sobre o Manequim "Possuído"
Sabemos que a agência de notícias CEN tem uma tradição de usar imagens extraídas de trechos de vídeos que são publicados, principalmente no Youtube, e eles intencionalmente cortam quaisquer logomarcas, impedindo assim uma melhor identificação do material que eles repassam. Contudo, nesse caso não foi tão difícil descobrir.
Essa história teria supostamente partido do site do "El Dominical de Panamericana", que sempre é exibido aos domingos, às 8h, na TV Panamericana, que por sua vez, é uma rede de televisão peruana fundada em 1959. A reportagem foi exibida no dia 26 de junho, um dia antes de ser publicado pelo "Daily Mirror", e não havia nenhuma referência recente sobre o caso em sites de notícias bolivianos. Será que o caso teria acontecido no Peru ou então teria mesmo acontecido na Bolívia, mas não era algo tão recente assim?
Aliás, a própria TV Panamericana publicou em sua respectiva conta no Youtube, o vídeo referente a reportagem, porém havia um pequeno problema. O vídeo claramente pertencia a outra emissora de televisão, visto que eles até tentaram encobrir as logomarcas, e o que estava escrito na tela, de uma forma muito esquisita e visivelmente mal feita. Confira o que eles divulgaram:
Estou tão acostumado a escrever e traduzir notícias ou matérias que envolvem a América Latina, que imediatamente identifiquei as duas logomarcas que aparecem o fundo. A primeira, à direita da tela, era da rede de televisão Telemundo. A segunda, à esquerda, era do programa "Al Rojo Vivo" (ARV), que é apresentado pela jornalista e atriz María Celeste. Assim sendo, era uma questão de tempo, aliás pouquíssimo tempo, até localizar o vídeo "original".
Ao realizar uma rápida pesquisa, foi possível notar que toda essa história começou a ser divulgada no dia 6 de outubro de 2015, ou seja, cerca de 10 meses atrás. Confira a reportagem que foi publicada no canal do programa "Al Rojo Vivo", no Youtube:
Apesar da notícia ser bem antiga, ao menos sabíamos que o caso tinha acontecido mesmo na Bolívia, e dentro de uma instituição de cunho militar do país. Assim sendo, nada melhor do que começar a explicar direitinho essa história para vocês, e descobrir se isso poderia ter realmente acontecido ou não.
Um Pouco Mais Sobre Toda Essa História
Toda essa história teria acontecido no Museu do Colégio Militar do Exército da Bolívia, que fica dentro do complexo do Colégio Militar do Exército "Coronel Gualberto Villarroel López", que por sua vez é um instituto responsável por formar oficiais para o Exército da Bolívia, localizado no bairro de Irpavi, na zona sul da cidade de La Paz. No museu, propriamente dito, as pessoas podem encontrar objetos, textos, vestimentas utilizadas pelo exército boliviano ao longo de sua história, e principalmente armamentos antigos. Algo absolutamente normal considerando um museu dedicado a preservar a memória militar de um país.
Imagem do Google Street View mostrando a entrada principal do Colégio Militar do Exército da Bolívia, em La Paz |
Imagem do Google Street View mostrando a entrada princial do Museu do Colégio Militar do Exército da Bolívia, em La Paz |
O tiro teria sido disparado por um cadete (não foi mencionado o nome desse aluno), que jurou ter visto o mesmo se movimentando, e teria tentado atacá-lo |
Como se tudo isso não bastasse, outros cadetes disseram que ouviam ruídos estranhos nas dependências do Colégio Militar, e que eles acreditavam ser as almas dos cadetes, que morreram no local, e do ex-comandante que não deseja ir embora. O próprio cadete Moisés Borja disse que de vez em quando eram ouvidos passos, como se alguém estivesse andando pelo Pátio da Artilharia do Museu do Colégio Militar.
O próprio cadete Moisés Borja disse que de vez em quando eram ouvidos passos, como se alguém estivesse andando pelo Pátio da Artilharia do Museu do Colégio Militar |
A parte mais interessante ocorre justamente na parte final da reportagem, onde Heriberto Ozinaga, diretor do Museu do Colégio Militar, disse que tudo isso não passava de histórias que eram contadas para assustar os novos cadetes, e que já eram contadas desde a década de 70 ou 80. Resumindo, isso não é nada recente, e no máximo a reportagem comentava sobre as lendas ou eventos sobrenaturais que "assombravam" os cadetes do Colégio Militar do Exército da Bolívia, em La Paz.
Heriberto Ozinaga, diretor do Museu do Colégio Militar, disse que tudo isso não passava de histórias, que eram contadas para assustar os novos cadetes |
Até mesmo o repórter Bernabé López, que foi o responsável pela reportagem, disse que um investigador paranormal (cujo nome não foi mencionado) havia recomendado uma espécie de limpeza espiritual do local, para que as almas finalmente pudessem descansar em paz.
Enfim, restava apenas entender o motivo que levou o programa "Al Rojo Vivo" a exibir ou realizar essa reportagem, visto que foi praticamente uma notícia isolada naquela época. Apesar de não ter uma motivação explícita, existe um detalhe que é necessário compartilhar com vocês sobre esse museu, para que vocês possam ter uma base mais sólida sobre o assunto.
Uma Dose de Realidade Por Trás dos Fatos
O que dificilmente contariam para vocês é que em 17 de abril do ano passado, a imprensa boliviana divulgou que o Museu do Colégio Militar estabeleceu um convênio com a "Mi Teleférico", uma empresa estatal que administra o maior e mais alto sistema de transporte aéreo por cabos do mundo, que liga a cidade de La Paz e El Alto (considerada a porta de entrada de imigrantes provenientes do resto do país, especialmente os recém-chegados das áreas rurais que buscam uma oportunidade melhor de trabalho), através de modernos teleféricos.
O motivo? Segundo Roberto Ponce, comandante do Colégio Militar, a parceria pretendia abrir o "coração" do Colégio Militar para que toda população boliviana pudesse visitar o museu, e conhecer a história do Exército e do Estado boliviano. Dessa forma havia sido estabelecido uma espécie de circuito, no qual a pessoa saía da "Praça Espanha" (conhecida como "Praça das Armas"), embarcando na estação Supu Kachi (Sopocachi) da linha amarela do teleférico, até a estação Irpawi (Irpavi) na linha verde.
A entrada no museu era gratuita, e dentro dele era possível ver uniformes militares que foram utilizados desde 1809, bandeiras utilizadas nas guerras, armas, fotografias |
De acordo com Lourdes Omoya, seria muito importante que todos pudessem conhecer o sistema de transporte por cabos, que desfrutassem de uma vista panorâmica, e ao mesmo tempo conhecessem um pouco mais sobre a história da Bolívia. Algo bem semelhante a isso também foi publicado pelo site"Periódico La Región" em 9 de setembro do ano passado.
Foto de uma das salas do Museu do Colégio Militar do Exército da Bolívia |
E vocês, no que vocês acreditam?
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