Meu nome é B., tenho 18 anos, moro em Santo Ângelo - RS e o que eu vou
contar aconteceu comigo poucos dias atrás. Há ano e pouco eu me mudei
com meus pais para a casa da minha avó materna (ela caiu e quebrou a
clavícula, então decidimos que embora ela gostasse de morar sozinha, era
muito perigoso) para cuidar dela. Eu nunca gostei dessa casa, sempre
senti uma aura pesada...
Enfim, no dia em que tudo aconteceu, eu já amanheci de um jeito
estranho. Era 5:30 da manhã aproximadamente quando eu levantei. Meu
quarto fica na parte dos fundos da casa, poucos metros do canil. Nesse
dia, o meu cachorro mais velho não parava de latir, era um latido de
puro desespero e o mais novo choramingava como se alguém estivesse
pisando na patinha dele. Eu fiquei preocupada, claro! Então levantei e
cruzei a sala às pressas, passei pela cozinha tropeçando no tapete e
quando eu cheguei perto pra ver meus cachorros, eles estavam quietos,
mas não quietos porque me viram, eles pareciam assustados, estavam
encolhidos juntinhos. Eu entrei no canil, dei ração e troquei a água
deles como de costume e voltei pra dentro.
A essa hora eu já nem sentia mais sono, resolvi ficar na sala assistindo
Friends e foi aí que piorou. Na sala tem três quadros bem antigos,
nunca gostei deles, mas eles nunca me assustaram. Fiquei assistindo e
rindo, mas eu estava desconfortável, me sentia vigiada. Passou um tempo e
meus pais levantaram, tomaram café, se arrumaram e saíram para
trabalhar me deixando sozinha com a minha avó. Eu continuei vendo TV até
que ela se desligou sozinha. Eu pensei que talvez fosse besteira,
porque isso acontece direto, mas quando tentei religar não deu e estava
tudo plugado certinho na tomada. Eu dei de ombros e voltei para a
poltrona e comecei a jogar no celular, mas de novo me senti vigiada. Eu
ergui o rosto e fiquei encarando o quadro e era como se ele me encarasse
de volta. Eu desisti de passar o tempo na sala e resolvi ir pra
cozinha, fiz um sanduíche, leite com achocolatado e fui pro quarto
checar o Facebook e assistir House Of Cards. Passei a manhã assim e
depois do almoço eu resolvi cochilar. Acordei as 16 horas e fui ver
minha avó, ela passa a maior parte do tempo no quarto ouvindo o rádio e
rezando, a gente mal se cruza. Ela estava com a camisolinha dela rezando
o terço... Fechei a porta e no momento que eu o fiz, um dos quadros
caiu. Quase tive um ataque! Eu fui até ele, arrumei certinho na parede e
nem olhei muito porque dessa vez eu realmente fiquei assustada. Fiquei
mais um pouco na internet até à noite e então, como sempre faço nesse
horário eu fui pra sala assistir os show de stand up. Mas eu não
conseguia me concentrar nas piadas, nem todo o humor do mundo desviava
minha atenção do quadro.
Quando meus pais chegaram eu fiquei mais calma, mas eles chegaram, se
arrumaram e logo saíram, pois tinham combinado de jogar canastra com uns
compadres. Mais uma vez eu ficaria sozinha com a minha vó. Eles saíram e
eu fiquei na sala. Como na casa tem duas salas, uma pra TV e outra de
jantar, o que separa ambas são as poltronas, ou seja, atrás das
poltronas não tem nada, nenhuma parede, nada! E naquele momento eu
comecei a sentir que havia algo atrás de mim. Parecia alto e ficava cada
vez mais próximo, era como se estivesse com as mãos enormes pairando
sobre a minha cabeça. Eu congelei. Meus olhos fixaram no quadro e eu até
senti uma lágrima escorrer do meu olho porque eu REALMENTE não
conseguia me mexer. Depois de longos minutos minha avó saiu do quarto
para ir ao banheiro e eu finalmente recuperei o controle do meu corpo.
Fui até a cozinha, tomei um copo grande de água e voltei para a sala.
Foi então que levei um susto, o quadro que eu ficava encarando tinha
mudado. Na foto retratada todos estão olhando para frente, mas dessa vez
a mulher de azul estava com o rosto totalmente virado para a direita.
Não era ilusão de ótica, o rosto dela estava VIRADO. Eu sempre gostei de
terror, espíritos, serial killers, fantasmas e tudo mais, só que nunca
acreditei realmente, mas quando vi aquela imagem eu gelei de cima a
baixo.
Eu chamei a minha avó pra ela ver também e quando ela chegou, o quadro
estava normal. Ela deu de ombros e voltou para o quarto achando que era
mais uma besteira minha. Disse que eu não tinha olhado direito, deu de
ombros e voltou para o quarto. Já era tarde quando eu fui tomar banho e
de novo a sensação de estar sendo vigiada voltou. Acho que foi o banho
mais rápido que já tomei na minha vida. Passei pela sala e nem encarei o
quadro. Cheguei no quarto, coloquei o pijama e deitei para ler, foi
quando os latidos começaram. Dessa vez eu nem esperei, corri para fora
de casa e vi entre as árvores do quintal algo que parecia ser um homem
alto, muito alto. Ele tinha braços longos e era corcunda. Usava uma capa
preta que cobria boa parte do seu corpo. Eu prendi a respiração no
momento que o vi, mas assim que soltei ele olhou na minha direção e eu
vi. Ele tinha olhos cruéis e bem escuros, um sorriso amarelo cheio de
maldade e um nariz muito pontudo, a coisa mais horrenda que já vi em
toda a minha vida!!!!!!!! Eu corri pra dentro de casa e tranquei a porta
da cozinha e a da sala. Eu sentei no braço da poltrona super ofegante e
olhei pro quadro e quando eu vi - ou melhor, não vi - quase desmaiei. A
mulher de azul tinha simplesmente sumido do retrato. Eu hesitei em me
aproximar, cheguei um pouco mais perto e logo depois corri pro meu
quarto e me tranquei. Como meus cachorros nunca estão quietos, eu
estranhei que não estivessem fazendo nenhum barulho, então, com todo o
cuidado do mundo eu abri uma pequena fresta da janela pra ver se eles
estavam bem. Estavam. E quando eu olhei para o lugar onde o homem
estava, eu vi apenas um vulto azul.
Fechei a janela e me enfiei debaixo das cobertas até finalmente pegar no sono.
No dia seguinte, eu passei pela sala e o quadro estava normal. Então
durante o café eu perguntei para a minha mãe quem eram as pessoas no
quadro e ela disse que eram os avós dela. A senhora de azul era minha
bisavó materna. Quando perguntei minha avó sobre a mãe dela, ela só
disse que ela foi uma mulher incrível e que ela a tem protegido até
hoje.
0 comentários:
Postar um comentário