Por Antônia Lemos
Em 1983 morava em Canoas no RS com um filho de quase 2 anos. Meus irmãos de 16 e 17 vinham me visitar aos fins de semana e fizeram amizade com um rapaz da nossa rua ,o Tide, então os finais de semana eram na minha casa que se reuniam.
Um dia esse rapaz faleceu atropelado por um ônibus, o pai morreu um ano depois, certamente de tristeza, pois mudou muito desde a morte do único filho homem. Era uma família antiga e respeitada na região, tanto que após a morte do pai a rua recebeu seu nome. Meus irmãos passaram a me visitar menos porque a lembrança do amigo morto não lhes fazia bem, continuaram vindo, mas só de vez em quando.
Algumas semanas após sua morte tive um sonho que esqueci e só lembrei quando vi meu irmão chegando dias depois, comentei com ele, mas me arrependi de tocar no assunto visto a tristeza que ficou e no mínimo me achou maluca. Nunca mais falei desse sonho a ninguém.
No sonho eu abria uma porta que não era da minha casa, via uma cerca de ferro bonita, uma calçada de pedras de basalto negro que sempre achei bonito. Na calçada parado com as mãos nos bolsos estava um homem de cabelos encaracolados pelos ombros, moreno, vestindo calças de soldado, e ao lado dele o Tide. O moreno olhava pra rua e o Tide se virou, me olhou, sorriu e não disse nada, mas foi como se me dissesse'faça alguma coisa'. Um jeito no olhar me pedia que fizesse algo. Não entendi nada, só senti que tinha algo errado ali, uma pressa, um medo, mas ele sorria, não dava pra entender. Parei de pensar no sonho pois não tinha nada haver com minha vida real, não conhecia esse homem moreno, não era nenhum dos meus irmãos e não queria ser chamada de louca.
Dezoito anos se passaram e tive mais 2 filhos, mudei de casa, um sábado frio com chuvinha fininha não fui trabalhar, e depois do almoço todos foram ver TV, cada um em seu quarto. Fiquei terminando serviços no PC e deu sono também. Ia me deitar quando notei que o quarto do mais velho, esse que tinha 2 anos quando Tide morreu, estava escuro, então ele havia saído sem que eu visse, coloquei um casaco e sai na rua ver onde tinha ido. Devia estar perto porque tinha acabado de ver ele abrindo a geladeira. Abri a porta e vi ele na esquina olhando pra rua, falei pra sair da chuva que apesar de fininha poderia dar uma gripe, sei lá, coisa de mãe. Ele como sempre falou '' to indo''. A rua estava deserta. Acho que a vizinhança toda resolveu tirar um cochilo naquele sábado frio. Fechei a porta e ai sim me deu o arrepio. Era ele o homem moreno de cabelos compridos, até a calça do quartel. Mãos nos bolsos, tudo igual. A calçada de pedras pretas que mandei fazer, não sei exatamente o que senti, só sabia que tinha que tirar ele dali. Tinha que fazer ele sair daquele lugar. Abri de novo e chamei, ele falou 'to indo''. Tive um acesso de fúria tão grande que ele se espantou e entrou, não sei o que me deu, mas eu TINHA QUE TIRAR ELE DALI. Entrou e ainda esperei que assaltasse a geladeira de novo, fosse para o quarto e esperei ouvir o som da TV sendo ligada e o barulho da cama quando se deitou. Ai fui deitar e a agonia passou. Cochilei logo e meio dormindo ouvi som de ambulância e polícia. Cochilei de novo e ouvi mais outra ambulância. Uns 15 minutos depois meu caçula me acorda, a vizinha me chamava. Duas meninas filhas de um funcionário meu, que por acaso moravam em frente a casa da menina que meu filho estava de namorico foram atropeladas uma quadra da minha casa. Ficamos falando e ninguém sabia direito o que tinha acontecido, porque elas estavam na rua, indo aonde? Quem as atropelou? etc...
De noite meu funcionário veio me falar que tinha acontecido, estavam as duas no hospital muito mal, muito em choque, não dizia coisa com coisa. Acalmei ele e disse que tirasse o tempo que fosse necessário.
Na outra noite ao chegar do trabalho soube como tudo aconteceu, a mãe da namoradinha de meu filho não a deixou sair porque chovia, menina do tipo frágil que adoece fácil, caçula. Como tinham marcado encontro, pediu as amiguinhas que fossem chamar meu filho. Quando não o viram na esquina voltaram e um bêbado as atropelou arrastando por vários metros. Uma morreu no mesmo dia a outra uma semana depois. Meu filho estaria junto se não fosse o sonho com Tide. Obrigada Tide.
Em 1983 morava em Canoas no RS com um filho de quase 2 anos. Meus irmãos de 16 e 17 vinham me visitar aos fins de semana e fizeram amizade com um rapaz da nossa rua ,o Tide, então os finais de semana eram na minha casa que se reuniam.
Um dia esse rapaz faleceu atropelado por um ônibus, o pai morreu um ano depois, certamente de tristeza, pois mudou muito desde a morte do único filho homem. Era uma família antiga e respeitada na região, tanto que após a morte do pai a rua recebeu seu nome. Meus irmãos passaram a me visitar menos porque a lembrança do amigo morto não lhes fazia bem, continuaram vindo, mas só de vez em quando.
Algumas semanas após sua morte tive um sonho que esqueci e só lembrei quando vi meu irmão chegando dias depois, comentei com ele, mas me arrependi de tocar no assunto visto a tristeza que ficou e no mínimo me achou maluca. Nunca mais falei desse sonho a ninguém.
No sonho eu abria uma porta que não era da minha casa, via uma cerca de ferro bonita, uma calçada de pedras de basalto negro que sempre achei bonito. Na calçada parado com as mãos nos bolsos estava um homem de cabelos encaracolados pelos ombros, moreno, vestindo calças de soldado, e ao lado dele o Tide. O moreno olhava pra rua e o Tide se virou, me olhou, sorriu e não disse nada, mas foi como se me dissesse'faça alguma coisa'. Um jeito no olhar me pedia que fizesse algo. Não entendi nada, só senti que tinha algo errado ali, uma pressa, um medo, mas ele sorria, não dava pra entender. Parei de pensar no sonho pois não tinha nada haver com minha vida real, não conhecia esse homem moreno, não era nenhum dos meus irmãos e não queria ser chamada de louca.
Dezoito anos se passaram e tive mais 2 filhos, mudei de casa, um sábado frio com chuvinha fininha não fui trabalhar, e depois do almoço todos foram ver TV, cada um em seu quarto. Fiquei terminando serviços no PC e deu sono também. Ia me deitar quando notei que o quarto do mais velho, esse que tinha 2 anos quando Tide morreu, estava escuro, então ele havia saído sem que eu visse, coloquei um casaco e sai na rua ver onde tinha ido. Devia estar perto porque tinha acabado de ver ele abrindo a geladeira. Abri a porta e vi ele na esquina olhando pra rua, falei pra sair da chuva que apesar de fininha poderia dar uma gripe, sei lá, coisa de mãe. Ele como sempre falou '' to indo''. A rua estava deserta. Acho que a vizinhança toda resolveu tirar um cochilo naquele sábado frio. Fechei a porta e ai sim me deu o arrepio. Era ele o homem moreno de cabelos compridos, até a calça do quartel. Mãos nos bolsos, tudo igual. A calçada de pedras pretas que mandei fazer, não sei exatamente o que senti, só sabia que tinha que tirar ele dali. Tinha que fazer ele sair daquele lugar. Abri de novo e chamei, ele falou 'to indo''. Tive um acesso de fúria tão grande que ele se espantou e entrou, não sei o que me deu, mas eu TINHA QUE TIRAR ELE DALI. Entrou e ainda esperei que assaltasse a geladeira de novo, fosse para o quarto e esperei ouvir o som da TV sendo ligada e o barulho da cama quando se deitou. Ai fui deitar e a agonia passou. Cochilei logo e meio dormindo ouvi som de ambulância e polícia. Cochilei de novo e ouvi mais outra ambulância. Uns 15 minutos depois meu caçula me acorda, a vizinha me chamava. Duas meninas filhas de um funcionário meu, que por acaso moravam em frente a casa da menina que meu filho estava de namorico foram atropeladas uma quadra da minha casa. Ficamos falando e ninguém sabia direito o que tinha acontecido, porque elas estavam na rua, indo aonde? Quem as atropelou? etc...
De noite meu funcionário veio me falar que tinha acontecido, estavam as duas no hospital muito mal, muito em choque, não dizia coisa com coisa. Acalmei ele e disse que tirasse o tempo que fosse necessário.
Na outra noite ao chegar do trabalho soube como tudo aconteceu, a mãe da namoradinha de meu filho não a deixou sair porque chovia, menina do tipo frágil que adoece fácil, caçula. Como tinham marcado encontro, pediu as amiguinhas que fossem chamar meu filho. Quando não o viram na esquina voltaram e um bêbado as atropelou arrastando por vários metros. Uma morreu no mesmo dia a outra uma semana depois. Meu filho estaria junto se não fosse o sonho com Tide. Obrigada Tide.
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