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terça-feira, 1 de março de 2016

Família de Nevada Luta Contra o Governo Americano Para Manter Propriedade Próxima a Área 51!



A Oferta Final da Força Aérea dos Estados Unidos Pela Propriedade e Pela Mina Groom


Sessenta anos após a CIA e a Força Aérea dos Estados Unidos terem encontrado uma antiga pista de pouso ao longo do leito do Lago Groom para testar o avião espião U-2 em 1955, uma família que possui direitos sobre a extração de minério na Mina Groom, com vista para instalação militar classificada como Área 51, recebeu uma oferta final de US$ 5.2 milhões (cerca de R$ 20 milhões) para vender seu terreno. A proposta e o valor foram confirmados através de um comunicado publicado no dia 28 de agosto no site da Base Nellis da Força Aérea.

Foto do interior da Mina Groom, nas proximidades da Área 51, localizada no Estado de Nevada, nos Estados Unidos
No mesmo dia um jornal local chamado "Las Vegas Review-Journal" disse tentou entrar em contato com um representante da família, chamado Joe Sheahan, que por sua vez não quis comentar sobre esta proposta da Força Aérea. O comunicado cita o coronel Thomas Dempsey, oficial responsável pela Área de Testes e Treinamento de Nevada.

"A Força Aérea tem se esforçado para ser um vizinho responsável ao trabalhar ativamente com os proprietários de terras e vizinhos locais para garantir, que o desenvolvimento de nossas missões e das comunidades cresçam de uma forma compatível e mutuamente benéfica. Entretanto, neste caso, a Força Aérea esgotou todas as opções razoáveis para obter a um acordo com os proprietários de terras", disse Dempsey.

A Força Aérea alega que as atividades da família ao longo dos últimos anos têm limitado os seus esforços para utilizar a região para testes de vôo, como aqueles que acabaram contribuindo para o desenvolvimento do avião espião chamado U-2.

Foto antiga onde mostra a visão da propriedade, a cerca de 600 metros acima do Lago Groom, que aparece ao fundo.
Uma mensagem no Facebook através da página "Save Groom Mine" ("Salvem a Mina Groom", em português) questionou esse comunicado da Base Nellis. Segundo o "Las Vegas Review-Journal", uma informação enviada por uma leitora no dia 19 de agosto, dizendo ser a prima de Sheahan, com o nome de Barbara Manning, dizia que a Força Aérea estava "tentando assumir o controle da mina e do terreno".

"Tem sido uma batalha constante desde que a Área 51 foi aberta e começaram os testes", disse essa leitora. "O moinho da família foi bombardeado e destruíram o negócio deles. Eles foram afetados pela radiação, e foram ameaçados com metralhadoras... A Força Área têm tentado comprar o terreno, mas apenas por uma fração do que realmente vale", escreveu.

No dia 28 de agosto, após a publicação do comunicado da Base Nellis, o jornal tentou entrar em contato com Barbara Manning, porém ela disse que não podia falar sobre o assunto.

Fotos das casas construídas e mantidas pela família Sheahan atualmente
Questionado sobre as acusações, um porta-voz da Base Nellis escreveu em um e-mail dizendo que: "em vários momentos desde o início de 1980, a Força Aérea e os proprietários de terras têm discutido uma solução permanente para a situação. No entanto, devido a inúmeras razões, não foi possível a chegar a nenhuma solução".

Quando questionado sobre como os proprietários acessam a área restrita, o porta-voz, o Sargento Sanjay Allen, disse que: "eles têm direito ao acesso a propriedade, e que os acessos deles a áreas consideradas protegidas, são comunicados com pouca antecedência, fazendo com que as missões programadas de testes sejam interrompidas e reagendadas a um custo significativo para o governo".

Túmulo onde Patrick Sheahan foi enterrado dentro da propriedade
onde é localizada a Mina Groom.
"A presença civil dentro dos limites do área de testes e treinamento representam tanto um risco a proteção quanto a segurança", disse Allen.

"Sempre que pessoas estão presentes em parte desta área, os testes e os treinamentos não podem acontecer, resultando em um impacto negativo considerável sobre os programas e missões da Força Aérea", completou.

A página do Facebook "Save Groom Mine" mostra fotos históricas da casa de Patrick e Avis Sheahan na mina Groom, que foi criada em 1889 para a extração de chumbo, prata, cobre, zinco e pequenas quantidades de ouro. Uma das fotos mostra Avis com seus bisnetos que foram visitar o túmulo de Patrick na mina.

O comunicado também cita Jennifer Miller, vice-secretária assistente da Força Aérea para instalações militares, que diz: "Estamos esperançosos que a família irá aceitar a nossa oferta final de US$ 5.2 milhões por 300 acres (cerca de 1.214.060 m²) de mina não patenteadas, e 100 acres (cerca de 404.686 m²) da propriedade".

"Entendemos a ligação dos proprietários com a terra, mas também devemos considerar as exigências de segurança nacional", completou Miller.

A Família Resolve Vir A Público E Concede Entrevistas Para A Mídia Local


Alguns dias depois do comunicado da Base Nellis e da notícia publicada no "Las Vegas Review-Journal", a família Sheahan resolveu vir a público e conceder uma entrevista para a KLAS-TV, uma emissora local afiliada da CBS, cujo site chama-se "Las Vegas Now". Segundo a notícia publicada no dia 31 de agosto e atualizada ontem (2), a família nunca tinha comentado sobre esse assunto publicamente.

Imagem do Google Maps que mostra a localização da Área 51, Lago Groom e a propriedade da família Sheahan
"Em primeiro lugar, nós não queríamos vir a público, mas a Força Aérea nos forçou a isso. Queremos que saibam, que o que eles vêm fazendo ao longo de 60 anos com nossa família, é inaceitável", disse Danny Sheahan, 58 anos, co-proprietário da Mina Groom. "Eles atiraram sobre nossa propriedade. Os projéteis, as cápsulas caíram bem ali e mais adiante", completou.

"Desde o nosso tataravô, passando pelos nossos avós, nossos pais, todos eles foram criados lá", disse Joe Sheahan, 54 anos, co-proprietário da Mina Groom, e atualmente morador de uma cidade próxima, chamada Henderson, também no Estado de Nevada.

A família Sheahan acaba confirmando o que o "Las Vegas Review-Journal" havia publicado anteriormente. Segundo a família, as construções na propriedade foram metralhadas e bombardeadas por jatos militares ao longo das últimas seis décadas.

Foto de como era originalmente o moinho utilizado no processamento de minério na propriedade da família Sheahan

Foto do moinho utilizado no processamento de minério após ter sido supostamente bombardeado em junho de 1954
Foto atual do moinho, que foi tirada este ano
Eles acreditam que foi uma bomba errante ou o tanque de combustível da asa de um jato, que caiu sobre seu moinho de processamento de minério na década de 50, mais precisamente em junho de 1954, fazendo com que a extração fosse interrompida. A Força Aérea diz que o caso foi julgado na época pela então "Corte de Reclamações dos Estados Unidos".

"Meu avô e minha avó, Dan e Martha Sheahan, foram destruídos pelas mãos deste governo", disse Ben Sheahan, que possui 56 anos.

"Eles acabaram indo para um asilo tentando ganhar o caso do moinho que foi destruído pela Força Aérea. Temos algumas evidências que eles eram totalmente culpados, e isso nunca foi abordado", disse Barbara Sheahan-Manning, 59 anos, outra co-proprietária da Mina Groom, e a mesma que tinha enviado um email para o "Las Vegas Review-Journal" em 19 de agosto.

"Eles literalmente acabaram deixando nossos avós sem dinheiro ao tentar lutar contra eles", completou.

Foto de Dan e Martha Sheahan com seus filhos Patrick e Bob.
"Eles vêm afastando potenciais parceiros de negócios, dizendo a eles: 'Se vocês comprarem o lugar ou tentarem fazê-lo operar novamente, vamos desapropriá-los e vocês vão perder o dinheiro investido'", disse Danny Sheahan.

Nas últimas décadas, o governo ampliou a área ao redor da área 51 e montou sentinelas para manter os olhares mais curiosos longe da base.

"Estamos sendo investigados de forma ilegal. Fui ameaçada de ser presa durante uma viagem que certa vez fiz para passar um tempo em nossa terra, nossa própria propriedade privada", disse Barbara.

"Eles mantiveram as pessoas sob a mira de uma arma. Eles tomaram conta de 89.000 acres (cerca de 360.094.000 m²) em torno de nossa propriedade e nos fizeram uma ilha", disse Joe Sheahan.

"Porém seis anos antes disso, eles colocaram uma guarita de segurança na estrada, que nosso avô construiu para dar acesso à nossa propriedade, e começaram a exigir que a gente passasse pelos seus postos de controle, para ter tal acesso", continuou Barbara.

"Não estamos dizendo que eles estão fazendo por lá não seja importante ou que não precise ser protegido, sabemos disso. Estamos ao lado destas pessoas desde 1955", continuou Joe Sheahan.

"A verdade é que você pode ter uma visão maior do que está acontecendo na base através do Google Earth, e imagens que circulam por toda a internet", disse Barbara.

"O que estamos esperando é que nossos representantes digam que isso já é o suficiente. Eles precisam entrar em cena, e precisam corrigir isso", completou Ben Sheahan.

Imagem da propriedade da família Sheahan coberta de neve durante o inverno na região
A família Sheahan diz que a oferta da Força Aérea nem sequer chega perto dos valores que ainda podem ser obtidos através da mina, e muito menos da estreita ligação que a família possui com aquela terra, onde antepassados não só trabalharam, mas morreram no local.

"Está certo bombardear seus cidadãos, mantendo-os sob a mira de armas, em seguida insultando-os e lhes causando prejuízo?", disse Joe Sheahan. "Nos deixem em paz com a nossa propriedade ou então nos paguem o que nos devem", acrescentou.

Gerações da família Sheahan cresceram na propriedade da Mina Groom,
que agora está ameaçada de ser tomada pelo governo americano
A família Sheahan tem até o dia 10 de setembro para aceitar a oferta da Força Aérea, caso contrário o terreno corre risco iminente de ser desapropriado compulsoriamente pelo governo.

"O que o povo americano precisa perceber, é que se eles podem fazer isso com a gente, eles podem fazer isso com todo mundo, com cada um deles", disse Danny Sheahan.

"Então, não é irônico que no dia 11 de setembro, o governo dos Estados Unidos irá realizar seu ato final, que só pode ser descrito como um ato criminoso ao tomar nossa propriedade? Justamente em 11 de setembro, só acho isso irônico. Deplorável", disse Joe Sheahan.

A família também resolveu conceder uma entrevista ao "Las Vegas Review-Journal", que havia publicado a primeira notícia sobre o assunto. E relata um pouco como é morar próximo a Área 51.

Danny Sheahan conta que mais recentemente, quando alguns membros da família visitaram a propriedade na área restrita a cerca de 145km a noroeste de Las Vegas, visto que a Força Aérea permitiu-lhes fazer somente uma vez por mês, guardas os mantiveram sob a mira de armas, incluindo uma menina de apenas 7 anos de idade, que ficou "traumatizada" pela demonstração de força. "Parece que as metralhadoras resolvem qualquer coisa nos arredores da propriedade. Isso não é o modo de vida americano", disse Danny.

A família Sheahan alega que é mantida sob a mira de metralhadoras quando visita uma vez por mês a propriedade
Em um email, como resposta a este suposto incidente, o porta-voz da Base Aérea de Nellis, disse que a Força Aérea "não tem conhecimento de qualquer evidência que justifique essa alegação".

Barbara Sheahan-Manning ainda completa dizendo que a família possui 6 permissões para exploração de minérios patenteadas, além de 15 não patenteadas, que são arrendadas para o Serviço de Administração de Terras nos Estados Unidos. Além disso, há documentos da época sobre o incidente relacionado a explosão do moinho em inglês e formato PDF (clique aqui), bem como sobre a os bombardeamentos realizados no local que atrapalhavam a extração de minérios da Mina Groom (clique aqui).

Resta agora saber como será o desenrolar de toda essa história, se a família Sheahan terá motivos para comemorar até o dia 10 de setembro ou se lamentará como boa parte do povo americano irá fazer no dia seguinte, ainda que a causa para todo o sofrimento possa ter a mesma origem.

Atualização 09/09/2015 16:29: Em notícia publicada hoje no site LasVegasNow.com (pertencente a KLAS-TV), foi informado que a família Sheahan enviou uma carta para a Força Aérea dos Estados Unidos, e recusou a proposta oferecida por eles. A família aguarda até amanhã por uma posição oficial do Congresso americano para evitar de ser desapropriada pelo próprio governo. Como já citamos anteriormente, a família corre o risco iminente de ser desapropriada a força, sem qualquer tipo de indenização.

A equipe do site da TV americana, que acompanha o caso, tentou entrar em contato com a congressista Dina Titus, que apenas respondeu que "não iria comentar sobre o assunto". Também tentaram entrar em contato com outros dois senadores e outros dois congressistas, que não emitiram nenhuma declaração sobre o assunto. O governo americano até o presente momento permanece em silêncio sobre o caso da família Sheahan.
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